A necessidade de comer o que vê pela frente até se empanturrar pode ser uma doença séria. Isto é muito fácil de observar, via meios de comunicação, que por exemplo para manter a forma e progredir na carreira de modelo é preciso uma dieta rigorosíssima. Cardápio para cultivar a beleza tão padronizada e exigida pela sociedade de hoje consta: uma jornada de alface e filezinho grelhado, de preferência meio filezinho e uma bacia de alface. E parece que esta jornada ‘verde’ não é mais uma rotina somente das modelos e sim uma decisão imposta pela cultura atual e incorporada por algumas pessoas que acabam sofrendo por tamanha exigência para consigo mesma. Porém, para suportar este ritmo não é tão simples. Lá pelo meio do dia a disposição de seguir esta regra muitas vezes vai por água abaixo. E então, come um bombom, depois a caixa inteira. Empolgada, a pessoa continua e devora oito cachorros-quentes e, em seguida, três panelas de pipoca. Encerra o banquete com duas fatias de pizza, enorme indisposição e culpa monumental. Aí está a tão oculta Compulsão Alimentar. Não se trata de qualquer ataque à geladeira, o comer compulsivo é diagnosticado quando ocorre no mínimo duas vezes por semana, durante pelo menos quatro meses seguidos. Trata-se de um distúrbio alimentar sério, primo da anorexia e da bulimia. Da mesma forma que quem pratica o jejum radical da anorexia e o vômito provocado da bulimia, as pessoas que comem compulsivamente escondem seu hábito e têm vergonha dele. Em geral se empanturram às escondidas. Geralmente as pessoas com transtorno do comer compulsivo são obesas.Isto parece ser um retrato de uma geração cujo cardápio foi engrossado à base de alimentos gordurosos, supercalóricos e também uma dose dupla de ansiedade ou depressão. Não podemos relacionar as formas de comer compulsivamente somente com o aumento do corpo, da gordura, do peso da pessoa, é preciso questionar que necessidade de comer é esta que se depara com a perda do controle sobre o próprio corpo, sobre a própria emoção. Parece haver um conflito, não quer comer porém, come em dobro, triplo.... É preciso estar atento a esta contradição, a comida perde seu real sentido de alimentar um organismo e passa a ter novos sentidos como: preencher um vazio, ficar menos triste, ficar menos ansioso.... Que função tem tido a comida em sua vida? A obesidade está se tornando uma epidemia mundial. Esta é uma das preocupações que motivou a ATO a oferecer um espaço a mais em seus serviços com um grupo de tratamento da compulsão.
Ana Paula Gramacho Varela
Psicóloga – Psicanalista
ATO
segunda-feira, novembro 27, 2006
O Peso do Preconceito
Nossa cultura cada vez mais enfatiza a necessidade de estar em forma fisicamente, refletindo o magro como sinônimo de belo e mais atraente. O obeso tende a ser exposto a situações de discriminação devido seu peso. Por exemplo, ir ao cinema e não encontrar uma cadeira adequada ao seu tamanho; ser motivo de risadas por não passar pela roleta do ônibus. Há pessoas que não se intimidam em rir diante de um obeso, como se ele fosse assim apenas por ser preguiçoso e comilão. É preciso saber que o obeso pode estar sofrendo de algum tipo de distúrbio alimentar. Assim como na anorexia a pessoa se vê gorda, apesar de estar com aparência esquelética, continua a emagrecer podendo chegar a morte, o obeso pode igualmente estar sofrendo de um transtorno do comer compulsivo. Neste transtorno, há um ataque de comer exagerado sem a tentativa de livrar-se da comida por uso de laxantes ou vômitos induzidos. Estas pessoas tem a sensação de perda do controle durante esses ataques de comer chegando a um desconforto no estômago e sentimento de culpa. O fator emocional é importante nestes distúrbios, pois pode estar associado a depressão ou ansiedade. No transtorno do comer compulsivo, a pessoa para não lidar com seu sofrimento tenta aliviá-lo colocando algo de bom para dentro de si, a comida, dando uma sensação de prazer momentâneo. Ela não come simplesmente por fome, a comida é procurada como tranquilizante, podendo sem saber estar prejudicando-se. E o magro? O quê uma pessoa magra busca nas dietas radicais e ginástica exagerada, além do limite recomendado por profissionais? Há possibilidades de estar passando por dificuldades emocionais como o obeso, ou seja, o obeso não consegue livrar-se do exagero de comida; o magro não consegue livrar-se do exagero de dietas e exercícios. As diferenças são a forma de lidar com o sofrimento, muitas vezes ainda latente, e a discriminação.
Ana Paula Gramacho Varela
Psicóloga – Psicanalista
ATO
Ana Paula Gramacho Varela
Psicóloga – Psicanalista
ATO
Anorexia: a morte em vida
Vivendo na era do culto ao corpo, várias são as consequências a enfrentar. Os transtornos alimentares podem ser pensados também como uma consequência da exigência cultural do corpo magro. Falo neste artigo em específico, da Anorexia Nervosa. Não é a toa, no dia 14/11/2006 morre a modelo Ana Carolina Reston Macan, 21 anos, 1,74m de altura, 40 Kilos. A Anorexia Nervosa é muito antiga, primeira descrição de um quadro clínico data de 1691. Em 1873 foi denominada de ‘Anorexia Histérica’, um ano depois foi denominada como ‘Anorexia Nervosa’. É definida como um transtorno do comportamento alimentar com restrições dietéticas auto-impostas e padrões extravagantes de alimentação, acompanhados de acentuada perda de peso. Esta perda de peso é mantida pelo paciente em virtude de ele apresentar um temor intenso e injustificável de engordr e de se tornar obeso a qualquer momento. O que há de muito curioso neste transtorno é a ‘habilidade’ que a anoréxica tem em manter-se equilibrando-se em seus ossos, geralmente durante anos, sem que a família recorra a um tratamento. Digo a família, porque para a anoréxica não há necessidade de se tratar, ela sente que está muito bem e ‘habilidosamente’ faz a família acreditar nisto. Seu corpo é como um esqueleto, um cadáver que anda. É o fantasma da morte em vida. Talvez por isso seja difícil de olhar e a família segue acreditando que está tudo bem. São controladoras, por isso temem qualquer medida de seus familiares que possa ameaçar esse controle, não podem perder o ‘controle do apetite’, mas muitas vezes acabam perdendo a vida. A Anorexia Nervosa mata. Mas, é importante ressaltar, que há tratamento. É preciso estar atento, a anoréxica parece ter ficado tão exigente com seu corpo quanto a cultura atual, a cultura do ideal, onde algumas vezes o tiro sai pela culatra. Na busca da beleza encontra a morte.
Ana Paula Gramacho Varela
Psicóloga – Psicanalista
ATO
Ana Paula Gramacho Varela
Psicóloga – Psicanalista
ATO
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